Nelson Falcão Rodrigues foi um escritor, jornalista, romancista, teatrólogo, contista e cronista de costumes e de futebol brasileiro. É considerado o mais influente dramaturgo do Brasil. Nascido no Recife, Pernambuco, mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro. Quando maior, trabalhou no jornal A Manhã, de propriedade de seu pai, Mário Rodrigues. Foi repórter policial durante longos anos, de onde acumulou uma vasta experiência para escrever suas peças a respeito da sociedade. Sua primeira peça foi A Mulher sem Pecado (1941), que lhe deu os primeiros sinais de prestígio dentro do cenário teatral. O sucesso veio com Vestido de Noiva (1943), que trazia, em matéria de teatro, uma renovação nunca vista nos palcos brasileiros. Com seus três planos simultâneos (realidade, memória e alucinação construíam a história da protagonista Alaíde), as inovações estéticas da peça iniciaram o processo de modernização do teatro brasileiro. A consagração se seguiria com vários outros sucessos, transformando-o no maior dramaturgo brasileiro do século XX,[4] apesar de suas obras terem sido, quando lançadas, tachadas por críticos como "obscenas", "imorais" e "vulgares". Em 1962, começou a escrever crônicas esportivas, deixando transparecer toda a sua paixão por futebol.
Nelson Rodrigues revolucionou a dramaturgia brasileira com as 17 peças que escreveu ao longo de quase quarenta anos. Sua escrita polêmica e inovadora abalou os alicerces da nossa sociedade, dividindo opiniões, provocando intensos debates e tornando o teatro brasileiro conhecido internacionalmente. Dividida em dois volumes, esta edição segue a organização estabelecida pelo crítico Sábato Magaldi, em meados de 1980, sob a supervisão do próprio Nelson: peças psicológicas e peças míticas, no primeiro; tragédias cariocas, no segundo. Os livros contam ainda com um caderno de fotos de montagens históricas e textos críticos do próprio Nelson Rodrigues.
Enquanto se recupera no hospital após ter sido atropelada, Alaíde é assombrada por lembranças de seu passado conturbado com Lúcia, a irmã de quem roubou o namorado, e pelas memórias lidas no diário de uma prostituta do começo do século XX. Articulada em três planos cênicos ― o da realidade no hospital; o da alucinação com madame Clessi, a prostituta; e o da memória do conflito entre as irmãs ―, a peça Vestido de noiva foi o primeiro grande sucesso de público de Nelson Rodrigues e um marco na dramaturgia brasileira.
"O mineiro só é solidário no câncer." A partir desta frase de Otto Lara Resende, que define com amargor a essência humana, Nelson Rodrigues constrói um enredo que revisita elementos de seu teatro. O enredo de "Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária" gira em torno das hesitações do contínuo Edgar entre aceitar a proposta de se casar com a filha do dono da empresa em que trabalha e que alega ter sofrido um estupro bárbaro ou manter-se fiel ao seu verdadeiro amor por Ritinha, moça pobre que precisa se prostituir para sustentar a mãe louca e as três irmãs. Esta nova edição traz na orelha trecho de um texto que o próprio Nelson escreveu para o programa da peça na época de sua estreia.
Arandir, um homem casado, beija a boca de outro homem, que acaba de ser atropelado, realizando assim seu último desejo antes da morte. Com o destaque do caso pela imprensa, Arandir se vê compelido a um destino que não consegue modificar.
A vida como ela é...” dispensa maiores apresentações. Já nos anos 1950, quando estrearam, essas histórias de ciúme, obsessão, dilemas morais, inveja, desejos desgovernados, adultério e morte atraíram os leitores, tornando-se um grande sucesso. De lá para cá, a popularidade dos contos de Nelson Rodrigues só fez aumentar com as inúmeras adaptações que sofreram, passando das páginas do jornal a programa de rádio, fotonovela, filme, peça de teatro e até série de televisão. Tamanho era o sucesso da coluna que, em 1961, o próprio autor fez uma seleção de cem contos para publicar em livro, incluindo ali narrativas que ficaram célebres, como “A dama do lotação” e “A coroa de orquídeas”, entre outras. Agora, nesta nova reunião, comemorativa do seu centenário, tentamos escolher textos tão expressivos e representativos de “A vida como ela é...” quanto os da primeira coletânea. E todos inéditos em livro. Aqui o leitor terá oportunidade de conhecer cem outros contos, que garimpamos nos dez anos de publicação da co¬luna no periódico Última Hora, inclusive o primeiro da série: “O homem do cemitério”. A natureza dessas histórias é visceral, elas partem do comezinho, mas se amplificam num humano profundo, oscilando entre o desespero e a graça — todas com a sutileza e a inteligência de um grande escritor e, sobretudo, comunicador. Leitura imperdível. Batata!
Ao intitular seu último livro de O reacionário, epíteto que, de tanto ouvir ligado ao seu nome, Nelson Rodrigues decidiu assumir para si, o autor resumiu toda a sua história de polemista. Sua obra jornalística, por sua vez, não pode ser relegada simplesmente à polêmica. Como escreveu Gilberto Freyre no prefácio à primeira edição de O reacionário, “o escritor-jornalista ou o jornalista-escritor é o que sobrevive ao jornal. Pode resistir à prova tremenda de passar do jornal ao livro”. Nas 130 crônicas reunidas neste livro, publicadas entre março de 1967 e maio de 1974 nas colunas “Memórias” do Correio da Manhã e “Confissões” de O Globo, estão presentes ao mesmo tempo o vigor e a graça do estilo de Nelson Rodrigues. Prova de que, além de retratar uma época e contrariar o “bem pensar”, seus textos são alguns dos melhores momentos do gênero brasileiro por excelência, ao mesmo tempo jornalismo e literatura: a crônica.
Um dos mais importantes romances nacionais, Asfalto selvagem reúne numa só narrativa paixão, suspense, devoção religiosa, erotismo, incesto, tragédia, humor e um olhar implacável sobre as obsessões que nenhum de nós ousa confessar. Quase nada escapa da pena demolidora de Nelson Rodrigues: instituições, ideologias, desejos. Se parece audacioso no século XXI, o que se pode dizer sobre o impacto causado nos leitores do jornal Última Hora, em que foi publicado em forma de folhetim entre 1959 e 1960? Um escândalo. E um imenso sucesso. Eis a genialidade do autor: Nelson realiza a rara proeza de escrever um romance profundo e ao mesmo tempo popular. Obra irresistível para os leitores de então e para os atuais, Asfalto selvagem continua a descortinar as tensões mais subjacentes da moralidade urbana brasileira por meio de um texto deliciosamente perturbador e personagens inesquecíveis. Inclui textos de apresentação da escritora Adriana Armony e da atriz e escritora Maria Ribeiro, além de notas ao final contextualizando personagens e situações reais citadas no livro
O óbvio ululante traz uma seleção, feita pelo próprio Nelson Rodrigues, das “Confissões” que ele publicava em O Globo entre dezembro de 1967 e junho de 1968.Nessa coluna, além de deixar entrever parte de sua vida, analisava personagens de sua época, as mudanças de comportamento e os debates políticos pelos quais passava o país. Encontramos em cada crônica os tipos criados por Nelson, como a “estagiária do JB” e a “grã-fina de nariz de cadáver”, e os amigos ― e inimigos ― que o autor transformava em personagens: Otto Lara Resende, Hélio Pellegrino, Antonio Callado, Alceu Amoroso Lima, D. Hélder Câmara, entre outros.
"O casamento, única obra de Nelson Rodrigues escrita originalmente como romance, foi também o primeiro livro a ser censurado num Brasil sob a ditadura militar, em 1966. O governo viu um ataque à sagrada instituição da família brasileira onde, na verdade, o que havia era um retrato fiel de uma sociedade em franca decadência, como mostram os textos de apoio que Bárbara Paz e Paulo Werneck escreveram para esta edição. Por trás dos personagens desta história ― um ilibado pai de família de classe média alta, jovens descobrindo a vida, mulheres honestas e castas ―, escondem-se desejos e tragédias desmesuradas, além de eventos que eles gostariam de ver perdidos no tempo, mas que voltam para cobrar a conta. Toda intenção politicamente correta numa realidade urbana à beira do abismo é demolida pela pena de Nelson, que lança luz sobre uma hipocrisia que nossa vista, por si mesma, é incapaz de alcançar."
Meu destino é pecar é o primeiro de uma série de romances que Nelson Rodrigues escreveu originalmente para as páginas de jornais, sob o pseudônimo de Suzana Flag. Mestre do folhetim brasileiro, o autor soube como nenhum outro dar forma e ritmo narrativo aos sentimentos mais desbragados. Estão aqui paixões, ódios, desejos incontidos, obsessões e promessas de vingança, tudo em uma trama recheada de reviravoltas que surpreendem até o leitor mais sagaz. Espécie de antecessora das telenovelas brasileiras, esta primeira história de Nelson forja aquilo que mais tarde cativará todo um país na tevê: mocinhas que jamais renunciam ao amor, galãs inabaláveis, rivais dispostos a tudo, vilões da pior estirpe. Eis os ingredientes que, alinhavados por cortes precisos, de capítulo a capítulo, nos fazem perder o fôlego.